Com hospitais lotados, sem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e a dificuldade de transferir pacientes para a capital, municípios lutam para salvar vidas.
Após o colapso do sistema de saúde em Manaus, o Amazonas agora vive o agravamento da crise no interior. Assim como a capital, os municípios têm registrado aumento expressivo de casos da Covid-19, mas precisam lidar ainda com a falta de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), fornecimento de oxigênio e dificuldades de remoção de pacientes para cidades com condições de atendê-los. De acordo com o boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), nesta quarta-feira (20) o estado bateu o recorde de registros diários, com 5.009 novos casos. Desse total, 1.377 são do interior.
Para contribuir neste cenário emergencial da rede de saúde dos municípios, que sofre com a falta de infraestrutura e insumos, a Aliança Covid Amazonas, coordenada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), está promovendo uma campanha para captação de recursos financeiros e materiais, e realizando a entrega de doações para reforçar as ações de enfrentamento ao novo coronavírus nas regiões mais afetadas. Um canal de doação exclusivo para essa situação foi criado e as pessoas podem contribuir pelo PIX 09351359000188 ou via cartão de crédito no link abre.ai/sos-amazonas.
Segundo a Superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, Valcléia Solidade, a fundação fez um levantamento das demandas prioritárias dos municípios em contato com prefeituras, profissionais de saúde e lideranças comunitárias. A estratégia é mobilizar os 112 parceiros da Aliança, entre empresas, instituições e poder público, para atender as necessidades mais urgentes.
“A intenção da Aliança sempre foi de minimizar ao máximo o impacto lá na ‘ponta’, que é onde, de certa forma, o sistema é mais fragilizado, onde tudo é mais escasso. Então, se hoje a rede de saúde da capital está lotada, é importante que possamos tomar medidas preventivas para que o interior possa absorver as demandas e evitar o agravamento da situação que estamos vivendo neste momento”, afirma.
Desde abril do ano passado, a Aliança vem atuando nesse sentido e já beneficiou mais de 350 mil pessoas em todo o estado com o apoio de 112 parceiros públicos e privados.
A crise no interior
Com estrutura mais precária se comparados a Manaus – o que leva muitas famílias a pedirem transferência para leitos na capital – diversos hospitais do interior do Estado estão em colapso pela falta de oxigênio devido a problemas de logística. Segundo dados da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), foram registradas pelo menos 30 mortes de pacientes causadas pela falta do insumo, entre 15 e 19 de janeiro. Do total de 238.980 casos confirmados no Amazonas, 103.132 são de Manaus (43,16%) e 135.848 do interior do Estado (56,84%). São 61 municípios do interior com óbitos confirmados até o momento, totalizando 2.227 mortes.
Durante reunião virtual da Aliança, realizada nesta quarta-feira (20), representantes dos municípios e lideranças locais relataram a dramática situação vivenciada nos últimos dias. O município de Manacapuru, distante 100 km de Manaus, está entre os mais afetados. O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Balbi, expôs as dificuldades enfrentadas para tratar os doentes, em razão do volume de casos, e a preocupação com as comunidades ribeirinhas. “Estamos muito preocupados com a interiorização [da Covid-19] e a ‘afetação’ das populações ribeirinhas, pois ainda estamos nesse processo. Certamente, dentro de poucos dias, haverá muitos casos na zona rural”, disse.
O vereador indígena, Guilherme Hixkaryana (Republicanos), de Nhamundá, a 383 km da capital, destacou a importância da mobilização para reduzir o impacto da nova onda da Covid-19 entre a população indígena. “Aqui, nós deixamos nossos ‘parentes’ aldeados em isolamento mais uma vez, pela segunda onda [da Covid-19]”, afirmou, destacando ainda a necessidade de equipamentos de proteção individual (EPI) para os profissionais de saúde indígenas que estão trabalhando na linha de frente contra o coronavírus. “Estamos correndo atrás de apoio e trabalhar em parceria neste momento tão difícil que estamos passando”, disse.
As reuniões da Aliança ocorrem de forma periódica, desde abril de 2020, para atualizar o avanço da Covid-19 no Amazonas e identificar as demandas do interior do Estado para o combate ao vírus. Os relatos feitos durante os encontros, que acontecem virtualmente, são extremamente importantes para que os coordenadores elaborem uma abordagem estratégica a partir da realidade de cada localidade. Com isso, já foi possível levar doações para diversas comunidades ribeirinhas e indígenas, além de bairros periféricos de Manaus.
Primeiras doações
Diante do caos sanitário e humanitário enfrentado pelo Estado, a Aliança deu início às primeiras doações nessa segunda onda da doença. Máscaras descartáveis e de tecido, álcool gel, protetores faciais e medicamentos como Azitromicina e Paracetamol, foram entregues na última semana. Entre os beneficiários, estão os municípios de Iranduba (distante 27 km de Manaus), Rio Preto da Eva (a 57 km da capital) e Envira (a 1.208 km de Manaus), além da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e a Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé, localizada no bairro da Compensa.
Aliança Covid Amazonas
O Amazonas foi o primeiro estado a ver seu sistema de saúde entrar em colapso na pandemia do novo coronavírus, em abril de 2020. Para ajudar as populações mais vulneráveis a enfrentar este cenário, a FAS criou a “Aliança dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais e Organizações Parceiras do Amazonas para o Enfrentamento do Coronavírus”, articulada em parceria com 112 empresas, prefeituras e instituições. Até outubro de 2020, essa iniciativa arrecadou 32 milhões de reais em recursos financeiros e 7,9 milhões em equipamentos e materiais.
Fonte UP Comunicação