Em 2018, jogadores digitais movimentaram no Brasil R$ 5,6 bilhões
O Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus (CODESE Manaus), – organizador da Feira do Polo Digital de Manaus, evento direcionado para o segmento de tecnologia que reuniu mais de 21 mil pessoas e negócios prospectados no valor de R$ 24,5 milhões, no ano passado, – estuda um novo e promissor nicho de mercado. Os gamers, jogadores digitais, conforme dados da consultoria Newzoo, consumiram R$ 5,6 bilhões no País, em 2018. O apoio a produção de equipamentos e jogos assim como incentivo aos cyber sports podem elevar o faturamento da capital em curto espaço de tempo.
Na segunda edição da Feira do Polo Digital, realizada no ano passado, o foco concentrou-se na Indústria 4.0 e em potenciais desenvolvedores de tecnologias que atuam numa área nova, porém vital para a manutenção das empresas da Zona Franca de Manaus, gerando empregos de qualidade e ajudando a diversificar a economia local.
“Não há como avançar no mundo moderno sem estar inserido no digital. Os especialistas dizem que mais da metade dos empregos da próxima geração será em atividades que poucos conhecem ou ainda não foram inventadas. Quem diria que jogar vídeo game iria além de uma simples diversão? As competições de jogos eletrônicos têm crescido de forma a gerar cifras milionárias tanto em consumo de produtos quanto em prêmios destinados aos cyber atletas. Manaus tem potencial para abraçar os dois segmentos, garantindo faturamento elevado por um longo tempo”, ponderou o presidente do CODESE Manaus, Romero Reis.
A Pesquisa Game Brasil 2019 revelou que 66,3% dos brasileiros têm o hábito de jogar jogos digitais. O smartphone é a principal plataforma para 83% e 60,3% já ouviram falar de eSports. O Brasil ocupa a 13ͣ posição entre os maiores mercados de games do mundo e detém a liderança na América Latina.
A entidade que planeja Manaus de forma a torná-la uma das 10 melhores cidades do País para se viver e uma das 20 para fazer negócios planeja inserir entre os estudos que realiza para prospectar novas alternativas de inserção e consolidação de atividades econômicas o mundo dos jogos eletrônicos e virtuais. “A visão do mundo dos negócios mudou. Não há como desprezar um setor que investe alto e lucra dezenas de vezes mais. Além disso, o piso salarial de um trabalhador do polo digital chega a ser sete vezes maior do que o de um empregado do polo industrial. Temos que entender que não usar a tecnologia é não estar inserido num ambiente que é fundamental hoje em dia”, ponderou Romero Reis.
Gamers locais enfrentam dificuldades
O DJ e jogador profissional de games, Gledson Lima, é um dos apaixonados pelo mundo dos esportes virtuais. O hobby adquirido na infância perdeu o status de mera diversão e se transformou numa carreira promissora a partir da profissionalização dos praticantes e da realização de campeonatos com premiações milionárias.
“Aquelas disputas informais no sofá de casa com os amigos são raras. Dependendo do período, um atleta desse esporte chega a treinar 10 horas por dia. Vencer é mais do que uma massagem no ego. Representa em alguns campeonatos a oportunidade de ganhar milhões. Mas isso também tem um custo de investimento. Um bom monitor pode chegar a R$ 2 mil. Aparelhar uma máquina que tenha o mínimo de desempenho compatível para rodar os jogos pode consumir de R$ 5 a 7 mil. Sem apoio, poucos se destacam no Amazonas, mesmo morando aqui uma população grande de apreciadores e jogadores”, explicou Gledson Lima.
A Bemol foi pioneira ao montar uma arena gratuita equipada com PS4, XBoX e jogos de PC, exclusivamente, para os apaixonados pelo mundo dos games. Os atletas e jogadores podem testar produtos e suas habilidades em lançamentos e jogos tradicionais na unidade do Shopping Sumaúma. A empresa do segmento do varejo, inclusive, patrocina o proplayer de PES (jogador de futebol digital), Alemão. Este amazonense, morador do bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste de Manaus, já foi campeão brasileiro e mundial na categoria.
O patrocínio para este tipo de atleta, no entanto, ainda é uma raridade no País. Segundo Gledson Lima, uma das maiores dificuldades para obter apoio empresarial vem de restrições impostas pela legislação brasileira.
“A Lei de Incentivo ao Esporte n˚ 11.438/2006 permite que empresas invistam até 1% e pessoas física até 6% do que teriam de pagar para o Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pelo Governo Federal. Mas como podemos inscrever projetos se os esportes eletrônicos não são reconhecidos como esporte? É preciso atualizar a legislação urgentemente. Caso contrário, potenciais atletas não se desenvolverão”, observou Gledson.
Além da revisão da legislação desportiva, o atleta também aponta que é urgente a redução das alíquotas cobradas sobre o material de games como mecanismo incentivador da categoria. “Quanto menor o custo para aquisição de produtos como PCs, mobiles entre outros, maior a possibilidade de que o atleta tenha condições de investir na sua carreira. A redução da carga tributária será recompensada com aumento nas vendas e, posterior, ganho para os governos que acreditaram e investiram no futuro de toda uma geração de atletas.
“Precisamos profissionalizar, formar novos players, narradores, comentaristas, streamings, desenvolvedores, criadores de conteúdos, e as diversas outras profissões que compõe este mercado profissional virtual, preparando nossos jovens para aprender a perder, ganhar e se superar”, afirmou Gledson.
A qualidade da internet é o grande desafio tanto para os que planejam investir na área quanto os players. As quedas constantes do sinal assim como a lentidão durante o período comercial retardam o avanço do setor no Amazonas. Muitos proplayers amazonenses, quando disputam partidas importantes, são obrigados a deixar o estado em buscar de internet forte e com sinal constante.
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